Francisco Cardoso

Vivemos uma era onde o exercício da Medicina vem sofrendo ataques de setores organizados da sociedade civil (Governos, Mídia, MPF, Empresariado da Saúde) que estão há anos empenhados em roubar do médico a autonomia de seus atos para poder direcionar o exercício de nossa profissão de acordo com o bel prazer de suas políticas locais, interessados no grande capital político gerado pelo ato médico em um país com grande carência em saúde como o nosso.
Esse fenômeno, que pode ser resumido como a tutelação do ato médico por operadores da sociedade civil, que tenta forçar o médico a atuar de acordo com seus interesses político-econômico-sindicais há anos causa grande estrago não apenas na relação médico-paciente como vem paulatinamente sufocando o médico e deixando o exercício profissional ser feito de forma incorreta e arriscada.
Na perícia médica previdenciária, essa tutelação do ato médico se faz ainda mais prejudicial, pois ceifa o médico perito de sua necessária autonomia e isenção para exercer seu ato médico pericial no periciando, cuja relação por si só já é de antagonismo.

Interesses escusos, necessidades de demanda, desconhecimento total do que seja o ato médico pericial e uso político de nossos carimbos em uma área de grande impacto social transformaram o controle do ato médico pericial em uma verdadeira batalha campal e judicial em que se usam das táticas mais sórdidas e brutais para evitar que o médico reassuma o papel central no exercício de seu ato médico.
Para esses operadores, o ato médico é um ato qualquer, que pode ser manipulado, mecanizado e quantificado, bastando apenas uma "boa gestão" para que o trabalho médico possa ser "bem feito" que nem em "linha de montagem". O médico é apenas um "operador" que pode ser substituido sem maiores queixas. Experiência acumulada, habilidades psicoafetocognitivas e formação técnica pessoais, currículo profissional, nada disso é importante.

"Não queremos doutores, queremos médicos que façam perícia", já disse um importante burocrata do governo, cuja quantidade de neurônios podem ser contadas com os dedos da mão. Essa visão simplista, onde o médico vira "profissional da saúde" e por ser "apenas um profissional da saúde" pode ser igualado a "outros profissionais da saúde" (e ai vem a gênese da "equipe multiprofissional") faz com que o INSS queira quantificar, tabelar, cobrar e registrar o trabalho médico da mesma maneira que fazem com os produtos plastificados que saem das linhas de esteira de onde vieram os atuais chefes de governo.

Se não tem o profissional de saúde médico, ou se ele é caro ou questionador, basta mudar para outro profissional de saúde, e a tentativa de nos igualar a outros profissionais menos qualificados é a origem da histeria dos paramédicos em relação à Lei do Ato Médico, que querem nosso mercado de trabalho e por conta disso esta Lei está há anos travada no Congresso Nacional.

Enxergar e tratar o médico como um "tarefeiro" passível de "gestão" é a origem de todos os males que enfrentamos: A má valorização, o péssimo salário, a lamentável condição de trabalho, a total insegurança e o desrespeito a que somos submetidos. Nada mais equivocado tratar o médico assim, pois a medicina não é ciência matemática, exige preparo, emoção, ação, coragem e muita habilidade, qualidades que não são passíveis de quantificação, tabelamento ou "gestão", ainda mais de quem é leigo.O resultado é a total catástrofe existente tanto na Perícia Médica como no SUS:
nenhum desses sistemas funciona bem, e continuará a não funcionar enquanto acharem que o médico é um operador de máquina.

Cabe a nós, peritos médicos, lutar diariamente para convencer o CIDADÃO e as autoridades que a medicina não pode ser gerida por leigos, não pode ser tabelada como parafusos numa máquina, temos que ter autonomia e infra-estrutura para nós mesmos podermos trabalhar de forma eficaz e independente, diminuindo o retrabalho, aumentando a qualidade e diminuindo a demanda.

QUALIDADE SIGNIFICA MENOS QUANTIDADE E MAIOR SATISFAÇÃO.

Estamos nessa luta não para brigar ou afrontar esses gestores leigos e equivocados que nos tratam assim. Isso não funciona, como visto na última greve. Estamos para mostrar tecnicamente e juridicamente que a autonomia, a isenção salarial (subsídio), a infra-estrutura adequada (incluindo como cobrar o trabalho médico) e o compromisso é que tornará a perícia médica um sistema eficaz. Mas para isso não podemos ter gestores leigos interfirindo na área médica.

É por isso que eu luto, é por isso que estou aqui.